sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Um debate sem grandes surpresas


Depois de mais de três horas, o primeiro debate com os candidatos à Presidência da República 2018 terminou sem que novos ou importantes rumos fossem dados aos eleitores. Dividido em bloco, os candidatos responderam a perguntas de outros candidatos, de jornalistas e da população por meio do jornal Metro. Organizado pela rede Bandeirantes, o debate bateu recorde de transmissão simultânea pelo Youtube no Brasil.
Os candidatos falaram muito do mesmo, ou seja, disseram o que a população espera que façam, mas sem em qualquer momento informar detalhes sobre como farão tudo o que pretendem.

Álvaro Dias, do Podemos


Com aparente desconforto e nervosismo, inicialmente relembrou sua carreira e, em especial, seu desempenho como governador do Paraná. Perguntado sobre o BNDES e da necessidade de mostrar à sociedade o que é feito com o dinheiro desse banco, Dias destacou a escolha de seu vice com experiência no tema e na convergência das propostas. Chamou a atenção para os 716 bilhões de reais transferidos pelo BNDES a outras nações, que, se investidos no Brasil, gerariam empregos. Sustenta que o sistema de “balcão de negócios” implantado em Brasília e em outras localidades exige uma “refundação” da República.
Perguntado sobre como resolver o problema da violência doméstica, Dias destacou que de 2006 a 2016 tivemos o sepultamento de 324 mil jovens de 14 a 25 anos. É preciso restabelecer a autoridade, pois a marginalidade se sobrepõe com o crescimento do crime. Sugere para resolver o problema, são necessários financiamento, capacitação e indução de políticas de segurança pública de Estado e não de governo, combate à produção e consumo da droga. A falta de segurança é consequência de um sistema de governança corrupto e incompetente.
Sobre quais seriam as medidas para punir os que estão envolvidos na corrupção, Álvaro Dias afirmou que o grande desafio é vencer o descrédito. Propõe a institucionalização da Lava Jato como política permanente. Sugere a seleção de juristas para a elaboração da legislação criminal do país e também alterações constitucionais para mudar o sistema de governança.

Cabo Daciolo, do Patriota
Sobre os concorrentes à Presidência da República, Cabo Daciolo diz que representam a velha política. Coloca em xeque as urnas eletrônicas. Quanto à crise, diz ser mentirosa, resultado de termos muitos sonegadores e falta de gestão. Quando se reduzirem os tributos, a receita irá aumentar; com a baixa de juros haverá aumento de consumo.
Segundo o Cabo, qualquer um que ganhar as eleições irá ratear o Estado entre os que o apoiaram. Mas, para ele, o momento de mudança é agora, pois o povo não aguenta mais tantas promessas. O momento é de transformação.
Sobre a greve dos militares na BA, no RJ e ES, que liderou, e a dos caminhoneiros, da qual participou e cujas reclamações diz não terem sido atendidas, afirma que em seu governo isso não vai acontecer, pois reduzirá em 50% o preço dos combustíveis. Afirma que militar só quer ser tratado com dignidade – enquanto no Rio de Janeiro determinada categoria ganha 900 reais mensais, essa mesma categoria em Brasília ganha 5 mil reais.

Geraldo Alckmin, do PSDB
            Para diminuir o desemprego, Alckmin fala sobre a necessidade de investimento e retomada da confiança, simplificação burocrática, abertura da economia, redução do custo Brasil que fez com que o país perdesse competitividade, a necessidade de melhorar salários e salário mínimo. Ressalta que o país é extremamente caro e que o crédito é necessário para o Brasil crescer – a atual oferta de crédito é muito pequena.
A respeito da aliança feita com o “centrão”, Alckmin responde sobre multipartidarismo e a necessidade de apoio das bancadas para mudar rapidamente o que é necessário para a retomada do crescimento, já no começo do próximo ano, e para isso é preciso aglutinar. Em todos os partidos existem ótimas pessoas. Sugere reforma previdenciária e uma reforma política para termos voto distrital misto.
Perguntado sobre segurança pública e as 64 mil pessoas mortes no ano passado no Brasil, Alckmin responde que no início de seu governo em SP eram mortas 13.000 pessoas por ano e, no fim de sua gestão, no ano passado, foram 3.503 pessoas assassinadas. Salienta, com esses dados, que é perfeitamente possível reduzir o número de assassinatos no Brasil, enfrentar duramente o crime organizado, criar uma guarda nacional para proteger a área rural também, e ser parceiro dos estados para que trabalhem juntos. Destaca que é preciso acabar com a impunidade e com o crime do colarinho branco. É preciso reformar as instituições e também a política, com a adoção do voto distrital misto, modelo alemão; apoio ao ministério público e mudança nas agências reguladoras para retirada das indicações partidárias a cargos.
Alckmin ainda pretende ampliar o Bolsa-família e que “emprego, emprego, emprego é o caminho”. Destacou ainda: Restaurante Bom Prato, rede que há 18 anos oferece alimentação por 1 real; moradia para quem precisa – em SP, quem ganha um salário mínimo tem acesso a casa própria pelo CDHU; saneamento básico e promoção de emprego e renda. Destaca que o atual Bolsa-família é a união de três programas do governo FHC: Bolsa-escola, em que o compromisso era de as crianças irem à escola; Bolsa-saúde, com o compromisso de as crianças serem vacinadas; e o Vale-gás.
Perguntado se contrataria pessoa de má reputação para seu governo, Alckmin responde que escolherá os melhores não só da política, mas da sociedade, sendo a competência o critério de escolha. Quem perde a eleição deve fiscalizar e quem ganha a eleição deve governar bem. Sugere ajuste pelo lado da despesa e privatizações, além de fiscalização e marcos regulatórios.
Alckmin entende que a reforma tributária é fundamental, que é preciso reduzir IRPJ e CSSL das pessoas jurídicas, colocar IVA e tirar 5 impostos, corrigir a tabela do imposto de renda, e o FGTS deve ser corrigido por indicadores mais favoráveis aos trabalhadores.

Marina Silva, da Rede
A redução do desemprego deve ser resolvida com investimento e recuperação de credibilidade, segundo Marina. Perguntada sobre o Sistema Único de Saúde, SUS, a candidata destaca seu sucateamento e que as mulheres são as mais prejudicadas. Irá melhorar o atendimento tanto de alta como de baixa complexidade.
Quanto ao déficit fiscal recorde que inviabiliza investimentos públicos, e que deve se repetir no próximo ano, Marina Silva quer resolver o problema, mas não o fará em prejuízo da saúde pública. Sua proposta é que o Brasil volte a crescer, que se resolva a reforma da previdência e que se recupere a credibilidade.
Perguntada sobre educação, a candidata diz saber o que a educação pode fazer na vida das pessoas; vai trabalhar a qualidade na educação, com o compromisso de que todos sejam alfabetizados até o 3.º ano; foco na Educação Infantil, no EF, no EM, e na valorização dos professores com salários dignos.
Segundo Marina, o país tem problemas de logística e o Brasil perde 30% da produção agrícola. Vai investir para aumentar a produção com ganho de produtividade, investindo em ciência e tecnologia, sem perder o cuidado com o ambiente e a saúde pública. Investirá também em energia limpa, renovável e segura.


Jair Bolsonaro, do PSL
Entre outras medidas para minimizar o desemprego, Bolsonaro pretende fazer comércio com o mundo, sem viés ideológico, tornar o Brasil um país desburocratizado. Destaca que aqui o salário é pouco para quem recebe e muito para quem paga.
Perguntado sobre a mortalidade infantil que aumentou assim como sobre o número de estupros, aumento da violência, salários injustos e diferença salarial entre homens e mulheres, Jair questiona se o Estado deve interferir na área salarial. Propõe projeto de lei para castração química voluntária de estupradores para inibir a violência contra as mulheres. Segundo ele, a violência só cresce em virtude da equivocada política de direitos humanos; o militar não tem retaguarda jurídica, o bandido está bem armado e a população desarmada. Que a vontade popular se faça presente por meio de referendos.
Sobre o fato de gastarmos em educação 3.800 dólares por aluno por ano, o que representa menos da metade do que gastam outros países, Bolsonaro fala do bom resultado dos colégios militares, alguns construídos em locais menos favorecidos. O percentual de alunos saído dessas escolas e que consegue vaga em universidades é significativo. Destaca a situação de falta de autoridade em sala de aula, pois 70% dos professores já foram agredidos física ou moralmente por alunos ou pais de alunos.
Bolsonaro pretende investir em ferrovias e aquavias, além de acabar com a indústria da multa no Brasil. Também pretende rever o preço dos pedágios.

Guilherme Boulos, do PSOL
Sua primeira medida para diminuir o desemprego seria revogar as medidas tomadas pelo governo Temer, como a da reforma trabalhista e a da aposentadoria, por exemplo. Também será preciso investimento em infraestrutura saúde e moradia, além de reforma tributária.
Perguntado se é a favor ou contra o aborto pelo fato de que todos os dias 4 mulheres morrem no Brasil na rede pública depois de uma tentativa de aborto que não deu certo, Boulos fala de que as mulheres têm muito mais direito do que os homens para decidir sobre esse tema. Destaca o direito das mulheres, a creche em tempo integral, SUS com atendimento especial para elas, salários iguais e políticas públicas; educação e saúde.
Sobre a atualização da tabela do imposto de renda, cuja defasagem média em 20 anos é de 90%, o que prejudica a classe média baixa, Boulos diz que vai atualizar a tabela, mudar e criar novas alíquotas. Fará reforma tributária, pois 49% da arrecadação se dá sobre consumo e não sobre renda e patrimônio. Pretende a taxação de grandes fortunas e aumento da alíquota de impostos sobre grandes heranças – quem tem mais, que pague mais.


Henrique Meirelles, do MDB
Meirelles relembra que quando no Banco Central ou mesmo no Ministério sua política econômica criou empregos (em 8 anos no BC, como resultado de sua gestão foram criados 10 milhões de empregos) e estabilidade na economia. Para minimizar o desemprego é preciso uma política econômica correta, aumento de confiança, de investimento. Se o Brasil cresce, gera empregos.
Meirelles fala na desinformação básica dos candidatos à Presidência; que não participou do governo da Dilma; que a dívida pública não subiu, caiu; e que os juros cresceram enormemente em período anterior ao período em que esteve no Banco Central. Ainda comenta que é preocupante termos candidatos a presidente que não conhecem o mecanismo da dívida pública em função de despesas que já se encontram previstas em lei.
Perguntado sobre a fronteira fechada com a Venezuela, Meirelles fala em dar apoio e ajuda ao estado de Roraima. Destaca que é preciso uma política que assegure emprego, investimentos e renda, a fim de evitar no Brasil uma crise humanitária inaceitável. Diz já ter apresentado ao Congresso uma série de projetos para a redução dos juros. Não trabalhou por Temer e por Lula, mas trabalhou pelo Brasil.
Meirelles se considera a pessoa que sabe como fazer o país crescer, que o importante é a competência e a honestidade. Já propôs 15 medidas desburocratizantes para facilitar a atividade econômica.

Ciro Gomes, do PDT
Perguntado como pretende resolver o problema do desemprego no Brasil, Ciro Gomes aspira já no primeiro ano criar 2 milhões de empregos consertando os “motores” que estão desregulados. Vai consertar as contas públicas, começando com as obras que estão paradas. Pretende ajustar a política de comércio exterior.
Sobre as reforma da previdência e trabalhista, Ciro propõe uma nova reforma trabalhista, porque, segundo ele, a atual põe a população em insegurança. A previdência é irreformável. Novo modelo de previdência, novo regime de captação e depois da campanha vai dizer como o fará.
Quanto à educação, Ciro Gomes afirma que 77 das 100 melhores escolas básicas estão no CE e que 40 de cada 100 vagas do ITA ou do IME vão para alunos que saíram das escolas daquele estado. Segundo ele, o que resolve mesmo é a mudança do padrão de ensino e o reforço do orçamento para a educação.
 Perguntado sobre a transposição do rio São Francisco, Ciro diz que o projeto de transposição ainda não está terminado. É preciso revitalizar o São Francisco, repor as matas ciliares e fazer o saneamento básico. A construção civil será uma forma de repor rapidamente os empregos perdidos.
Ciro disse que vai ajudar a pagar a dívida das famílias e das empresas. Não está preocupado com o responsável pela tragédia de 63 milhões de pessoas com o nome no SPC. Apesar de a dívida ser grande, a média é de 1.400 reais por pessoa, e pretende tirar essas pessoas dessa situação.
Com o atual déficit fiscal, o candidato se declarou surpreso com o aumento de salário dos ministros do STF proposto esta semana. Fala em imprudência acintosa ao estado de sofrimento e humilhação por que passam milhões de brasileiros desempregados.

CRÉDITO DA IMAGEM: SHUTTERSTOCK 

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