terça-feira, 2 de outubro de 2018

Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?

No próximo dia 7 teremos eleições para presidente da República Federativa do Brasil, o mais alto cargo executivo do país, entre outros cargos. A cada sabatina, discurso ou entrevista, apresentam-se candidatos se dizendo altamente preparados para fazer o país crescer.

Dadas as circunstâncias, em meio ao caos em que vivemos no cenário político nacional, temos o crescimento de alguns grupos ou movimentos sociais, que, liderados por esses candidatos, estão dispostos a tudo para assumir o poder. A cada "nova" denúncia de corrupção, prisão ou habeas corpus negado, esses grupos entoam a "uma só voz" o mantra de que precisam assumir o poder e exterminar as ameaças a seus interesses. E, para que isso ocorra, dizem ser necessário alguém disposto a dissolver toda a engrenagem das lideranças políticas do país, fazer mudanças no Ministério Público, Polícia Federal, na magistratura...

Observando o momento político que vivemos, nos vem à mente a história que dá origem ao título da postagem, a batalha política entre Cícero e Catilina!

O episódio se passa em meados dos anos 64-63 a.C. na cidade de Roma. Lúcio Sérgio Catilina, militar e senador daquela cidade, trava um grande embate com Marco Túlio Cícero em busca da mais alta posição da magistratura política da época, a de cônsul de Roma. Cícero, como fica conhecido, é um nobre, advogado, humanista e doutrinador, tem a erudição como base para ocupar o cargo, ao contrário de Catilina, que viera de uma família desprovida de riqueza.

Ao ser derrotado nas urnas, Catilina dá início a sua jornada em busca do poder – planeja com um grupo de homens seu intento e conjura contra todo o sistema para alcançar pela força o que não conquistou pela eleição.

Utilizando-se de técnicas populistas, Catilina reuniu homens que não tinham nada a perder, mas muito a ganhar caso a arremetida viesse a ser vitoriosa – sairiam de homens sem história para homens que ficariam na história. Para Catilina, sua investida contra instituições era absolutamente factível.

A história de Catilina pode ser comparada ao atual momento político do nosso país: o desejo de determinadas pessoas terem o Poder em suas mãos, que, preteridas, se utilizam de técnicas populistas a fim de subverter a situação atual e tentar com seus “guerreiros”, muitas vezes se utilizando de meias-verdades, tomar o poder, assim como o queria Catilina.

Cícero, ao saber das intenções de Catilina, o convoca à reunião do Senado em Roma, e realiza o primeiro dos seus famosos quatro discursos, batizados de Catilinárias, consagrando-se até hoje como um dos clássicos da oratória!

Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós? A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem o temor do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te?
Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste?
Oh tempos, oh costumes!

Após o discurso, Cícero oferece a Catilina a chance para retirar-se de Roma. Ele se retira e ao longo de sua vida de ímprobo oferece resistência a sua condenação à morte. Em sua trajetória política efêmera, vai à cidade de Pistoia, onde em um campo de batalha é assassinado em 62 a.C. Seus companheiros de outrora são presos em Roma e condenados à morte.

A delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci, que entre outros detalhes “estima que das mil medidas provisórias editadas nos quatro governos do PT, em pelo menos novecentas [grifos nossos] houve tradução de emendas exóticas em propina” nos fez lembrar a história de Cícero e Catilina, tão próxima ao momento que vivemos em nosso país.

Quando a cada dia tomamos conhecimento de mais detalhes da rede de corrupção que tomou conta do cenário político e da busca pelo Poder por aqueles que usurparam a confiança de um povo – mais do que isso, usurparam a confiança de toda a nação brasileira! – nos perguntamos: Até quando, vossas excelências, senhores corruptos, abusarão de nossa paciência? Por quanto tempo a vossa loucura há de zombar de nós?

CRÉDITO DA IMAGEM: NUVOLANEVICATA/SHUTTERSTOCK

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